segunda-feira, 2 de março de 2009

Política em tempo real

Os próprios parlamentares passaram a recorrer ao Twitter para animar as sessões, como se pode ler no Público.

"Deputados de olhos colados nos ecrãs dos portáteis
26.02.2009, Maria José Oliveira, Público

A participação nos blogues ao vivo transformou os debates quinzenais em momentos mais atraentes

A campainha já retine e muitos dos deputados que se dirigem para a Sala do Senado, em passo apressado, não carregam pastas com dossiers ou maços de folhas. Consigo trazem apenas um computador portátil (laptop). Lá dentro, enquanto aguardam a chegada do primeiro-ministro para o debate quinzenal, ligam as máquinas e levantam discretamente as estreitas placas de madeira que têm as medidas exactas para dissimular a utilização dos computadores.

Nem todos os parlamentares optam pela discrição - cerca de uma dezena de laptops está ostensivamente pousada nas mesas da última fila de lugares da bancada socialista. Há quem esteja ligado à rede social Twitter; há quem opte pelo Parlamento Global (site destinado a cobrir os debates parlamentares, resultado de uma parceria entre a SIC e a Rádio Renascença); há quem experimente visitar o site do PÚBLICO, que ontem estreou um blogue ao vivo para a cobertura do debate, permitindo em simultâneo a visualização na mesma página do Canal Parlamento; e, finalmente, há quem esteja ligado a estas três plataformas da Internet, saltando de uma para outra.

Basta dar uma volta pelas galerias e espreitar os ecrãs para confirmar isto mesmo. No concurso de utilizadores ganham os democratas cristãos e os socialistas (os sociais-democratas são, aparentemente, os info--excluídos do hemiciclo), sendo secundados pelo PCP (António Filipe é um habitué do Twitter), pelo Bloco de Esquerda e pelo Partido Ecologista Os Verdes (Heloísa Apolónia esteve "de serviço" para o Parlamento Global).

A sessão de perguntas a José Sócrates já começou. No hemiciclo, discutem-se políticas económicas e sociais; na Net, a discussão ultrapassa estas fronteiras (eutanásia, testamento vital), comenta-se a intervenção dos parlamentares, dos ministros das Finanças e das Obras Públicas, Teixeira dos Santos e Mário Lino, respectivamente, e claro, do primeiro-ministro. "Gostaria de saber o que o PM faria e diria se não tivesse este SUPER ÁLIBI da crise", escreve a deputada democrata cristã Teresa Caeiro, às 16h23, no Parlamento Global (PG). E um minuto depois surge a reacção, vinda de um estreante nestas lides, Paulo Pedroso: "Paulo Portas tira conclusões irreais". António Carlos Monteiro, da bancada do CDS/PP, refuta o socialista cerca de oito minutos depois: "Paulo Pedroso está desatento".

Pedroso, Caeiro e Monteiro foram, aliás, incansáveis - ao longo das duas horas de debate, raramente levantaram os olhos do écrã dos seus computadores. Igualmente activo esteve André Almeida, cuja página do Twitter ostenta uma imagem do deputado do PSD em plena "acção" na Assembleia da República. Com os ouvidos atentos às intervenções e rápidos a teclar estavam também Pedro Mota Soares, do CDS/PP, António Galamba, Jorge Seguro, José Junqueiro, Afonso Candal e Ana Catarina Mendes, do PS, Bernardino Soares, do PCP, e José Paulo Carvalho, deputado não inscrito (ex-CDS/PP).

Ao mesmo tempo que Pedroso vai comentando a actuação de Paulo Rangel, líder da bancada do PSD ("um momento de muito baixo nível de Paulo Rangel") e José Paulo Carvalho acusa o ministro das Finanças de estar a "fazer a tradução para o PM", alguns jornalistas (também ligados ao Twitter) recebem um mail de um assessor de imprensa do Parlamento: "Deputados comentam opiniões de deputados. Jornalistas "denunciam" quem está a tuitar, tuitando eles mesmos. (...) afinal, de que debate quinzenal estamos a falar? (...) Alguém se lembra do que é que Sócrates e os outros já disseram?".

Antes da sessão, o mesmo assessor contou ao PÚBLICO que os deputados "de 4.ª linha" lhe tinham confidenciado que os debates quinzenais tinham "um novo apelo" - o de participar nos fóruns de discussão na Net. Findos os debates (na rede e no hemiciclo), Pedroso experimentou um "sentimento misto": "Por um lado abre o debate aos portugueses; por outro, cria uma situação esquizofrénica de ser comentador de algo de que se faz parte."

Mas os benefícios das discussões paralelas na Net afiguram-se mais relevantes para o socialista. Porque transformam o Parlamento "num local onde a galeria tem direito a falar"; porque "diminuem os gestos simbólicos da claque" (há um "arrefecimento" da bancada socialista); porque "aumentam a participação dos deputados de 2.ª e 3.ª linhas". É neste momento que António Filipe, que passa perto, interrompe a enumeração dos factores positivos: "Eh pá, isto desconcentra...", diz, ensaiando, por momentos, um semblante agastado.

Socialistas e democratas cristãos ganham no concurso dos deputados que não levantam os olhos dos ecrãs dos portáteis."

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